UTOPÍA Y PRAXIS LATINOAMERICANA. AÑO: 22, n°. 79 (OCTUBRE-DICIEMBRE), 2017, PP. 97-110 REVISTA INTERNACIONAL DE FILOSOFÍA Y TEORÍA SOCIAL
CESA-FCES-UNIVERSIDAD DEL ZULIA. MARACAIBO-VENEZUELA.
Waldorf Pedagogy and Salutogenesis: teaching as a source of health. Pedagogía Waldorf y Salutogénesis: la enseñanza como fuente de salud.
Elaine Marasca GARCIA DA COSTA
Universidade de Sorocaba (UNISO), S-P, Brasil.
RESUMO
Este estudo é parte de nossa tese de doutorado em Ciências da Educação na Universidade de Sorocaba, São Paulo, Brasil. O objetivo é apresentar o Sistema Pedagógico Waldorf, o novo conceito de saúde -a Salutogênese- e discutir as possíveis congruências entre ambos, buscando demonstrar o diferencial pretendido por este ensino: o seu caráter sanador. A partir de observações e entrevistas foram estudados nove professores do Ensino Fundamental de escolas Waldorf no Brasil e na Alemanha. Os resultados parciais e a conjunção de fatores descritos nesse estudo, demonstram que o ensino Waldorf apresenta especificidades consistentes e coerentes com um ensino salutogênico.
Palavras-chave: Pedagogia Waldorf; promoção de saúde; salutogênese; senso de coerência.
ABSTRACT
This study is part of our doctoral thesis in Education Sciences at the University of Sorocaba, São Paulo, Brazil. The goal is to present the Waldorf Pedagogical System, the new concept of health –Salutogenesis- and discuss the possible congruences between both, seeking to demonstrate the differential intended by this teaching: its healing character. Based on observations
and interviews, nine Elementary School teachers from Waldorf schools in Brazil and Germany were studied. The partial results and the association of factors described in this study, demonstrate that the Waldorf teaching has consistent and coherent specificities with a salutogenic teaching.
Keywords: Health Promotion; salutogenesis; sense of coherence; waldorf pedagogy.
RESUMEN
Este estudio es parte de nuestra Tesis de Doctorado en Ciencias de la Educación en la Universidad de Sorocaba, São Paulo, Brasil. El objetivo es presentar el Sistema Pedagógico Waldorf, el nuevo concepto de salud -la Salutogénesis- y discutir las posibles congruencias entre ambos, buscando demostrar el diferencial pretendido por esta enseñanza: su carácter sanador. A partir de observaciones y entrevistas se estudiaron nueve profesores de Enseñanza Fundamental de escuelas Waldorf en Brasil y en Alemania. Los resultados parciales y la conjunción de factores descritos en este estudio, demuestran que la enseñanza Waldorf presenta especificidades consistentes y coherentes con una enseñanza salutagénica.
Palabras clave: Pedagogía Waldorf; promoción de salud; salutogénesis; senso de coherencia.
Recibido: 11-07-2017 ● Aceptado: 21-08-2017
Elaine Marasca GARCIA DA COSTA
98 Pedagogia Waldorf e Salutogênese: o ensino como fonte de saúde.
O fenômeno da vida, em seu sentido amplo, abrange integralidade, o que implica necessariamente, saúde e educação.
Desde a fundação da primeira Escola Waldorf em 1919 em Sttutgart, Alemanha, o método pedagógico Waldorf se concentra no conhecimento integral do ser humano e seu desenvolvimento físico, anímico e espiritual, respeitando-se sua prontidão, seus ritmos, tendo como pano de fundo o cuidado para não se dissociarem as qualidades do pensar, sentir e querer, trabalhados como processos integralizadores no cotidiano dessas escolas.
O desenvolvimento pretendido aponta para a liberdade; não propõe receitas ou dogmas, preconceitos ou julgamentos (credo, raça, cultura).
A instrumentalização é feita através do conhecimento, baseado na Antroposofia de Rudolf Steiner, aberto, acessível e adaptável, gerenciado pelo pensar humano1.
As aplicações práticas da Antroposofia, especialmente nas áreas da Educação (Pedagogia Waldorf) e Saúde (Medicina Antroposófica) sustentadas por uma base epistemológica clara e consistente, propõem que o trabalho nessas áreas seja artisticamente desenhado, pois deve priorizar a individualidade2.
Desse modo, professor e médico usariam giz e caneta como “pincéis”, construindo, a partir das relações em suas praxis, um quadro específico, singular para cada aluno ou paciente. Porém, sem despregar-se do contexto social e da realidade onde organizam seu trabalho, objetivando auxiliar a capacidade do ser humano em se desenvolver como cidadão responsável, engajado, espiritualmente livre para reconhecer e decidir sobre sua missão de vida, o que, potencialmente carregaria os estados de autonomia e pertencimento, per si, protetores e promotores de saúde3.
É possível interpretar a questão da saúde a partir de um conceito mais amplo como uma permanente conquista do ser humano, o que não inclui um estado de passividade, mas supõe um aprendizado construído durante toda a vida. Afundamentação fenomenológica da Pedagogia Waldorf parte justamente deste princípio ativante das forças cognitivas, afetivas e volitivas do sujeito, em prol de uma participação subjetiva com um engajamento integrador da experiência humana.
Saúde e educação compõem um binômio indissolúvel, cujos conceitos se entrelaçam e se subsidiam mutuamente. As várias conferências mundiais sobre Promoção de Saúde são unânimes em efetivar essa complementaridade, cujo estímulo fez surgir iniciativas na área de Educação, que culminaram nas propostas das Escolas Promotoras de Saúde4.
Asaúdepodeserconsideradacomoumalicercequesustentaocrescimentohumano, aaprendizagem, o bem estar social e, em conseqüência, a produção econômica e a cidadania responsável. A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais5.
STEINER, R (2008). A filosofia da liberdade. Editora Antroposófica. São Paulo, SP.
STEINER, R (2015). A arte da educação III. Editora Antroposófica. São Paulo, SP.
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Educar é também humanizar, ou seja, auxiliar mudanças pessoais para o desenvolvimento de qualidades humanas específicas, que impulsionem o crescimento pessoal e social, a amplificação da consciência crítica e mudanças comportamentais. Pode e deve ocorrer de maneira formal e informal em um processo multidimensional complexo6.
A educação pode influenciar a saúde de diversas maneiras:
por meio de estimulação das inteligências humanas contemplando suas habilidades, agregando conhecimentos que impulsionem hábitos e estilos de vida saudáveis7.
ou indiretamente, como um meio pelo qual as pessoas adquirem maior controle sobre sua saúde individual ou coletiva, realizando suas aspirações e necessidades8.
Considera-se a doença como conseqüência de isolamento ou desintegração de processos, funções ou substâncias. Ser saudável, portanto, significa integração consigo mesmo e com o mundo9.
Segundo a Carta de Ottawa - Conferência Mundial sobre Promoção de Saúde10: a saúde cria-se e vivencia-se no processo da vida cotidiana: nos locais de ensino, trabalho e recreação. É resultado dos cuidados que alguém dispensa a si mesmo e aos demais, da capacidade de tomar decisões e controlar sua própria vida.
Os fatores que influenciam a saúde não dependem apenas dos indivíduos, mas das relações que determinam as condições de vida das sociedades11.
Apesar da ênfase de pesquisas e estudos nos fenômenos patológicos, a Educação é um processo que subjaz sempre aos conceitos de Saúde, constituindo a base desse estudo, que pretende apontar o ensino Waldorf como um dos possíveis portadores dos ditames enunciados pela Salutogênese.
A partir de estudos feitos com sobreviventes em campos de concentração que mantiveram um bom estado de saúde física e mental, apesar das condições de vida altamente estressantes nesses lugares, Antonovsky12 desenvolveu um novo conceito de saúde – a Salutogênese. Nele, o autor relata que o ser humano precisa desenvolver, ao longo de toda vida, num aprendizado constante, as condições físicas e anímicas que o capacitem a “lidar”, de maneira adequada, com situações críticas. Ele sugere um olhar não somente em direção à doença (Patogênese), mas um investimento em pesquisas sobre geração e manutenção da saúde (Salutogênese) – suas causas e caminhos, onde a educação encontra espaço e possibilidades, já que este é um processo que se faz aprendendo.
6 PEREIRA LIMA, V et al (2000). “Helth promotion, helth education and social communication in helth: specifities, interfaces and intersections”. Promotion & Education: International Journal of Helth Promotion and Education, vol. 7, n°. 4, dezembro, Paris, pp. 8-12.
7 RAMOS, M & CHOQUE, R (2007). La educación como determinante social de la salud en el Peru. Ministerio Social de la Salud: OPAS, Lima.
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ANTONOVSKY, A (1997). Op. cit.
Elaine Marasca GARCIA DA COSTA
100 Pedagogia Waldorf e Salutogênese: o ensino como fonte de saúde.
Supõe que esses procedimentos utilizados de maneira coerente, protejam integralmente o ser humano, aqui entendido por saúde física, anímica e espiritual, o que seria responsável pelo elevado grau de resistência frente às adversidades de qualquer natureza. Antonovsky13 inaugura uma nova concepção de saúde, convocando a comunidade acadêmica do campo da saúde a se ocupar de modo equivalente com os processos geradores de saúde (Salutogênese), da mesma forma com que a pesquisa se ocupa das questões da doença (Patogênese).
Para Antonovsky, o resultado das experiências de vida, intra e extra escolar, constituiria o Senso de Coerência, segundo ele, responsável por aquilatar a maneira de cada indivíduo responder a situações potencialmente estressoras. O senso de coerência é designado como fio condutor da Salutogênese e se compõe de 3 características: inteligibilidade, manuseabilidade e significância, e apresenta um paralelismo claro com a proposta de integralidade gerada pelas qualidades do Pensar (inteligibilidade) Sentir (significância) e Querer (manuseabilidade) sugeridas por Steiner e que norteiam as atividades no método Waldorf.
A compreensão holística do fenômeno humano evita a especialização estéril do conhecimento, permitindo explorações inter e transdisciplinares da posição do ser humano no mundo e na sociedade, abrangendo saúde e educação como as apresentam Antonovsky14 e Steiner15 respectivamente.
A Pedagogia Waldorf é derivada da Antroposofia, filosofia inaugurada por R. Steiner. A primeira escola Waldorf nasceu em Sttutgart – Alemanha em 1919, a pedido de Emil Mott, dono da fábrica Waldorf
Astoria, destinada aos filhos de seus funcionários.
As escolas Waldorf são constituídas por uma associação de pais e professores, sem fins lucrativos, administradas por autogestão.
Quanto ao currículo, existe uma estrutura condutora, porém cada escola tem liberdade para sua implantação e adequação. “O currículo escolar deve ser uma cópia do que se pode ler no desenvolvimento humano” 16.
Deve-se salientar que a relação professor – aluno é a base da Educação Waldorf 17. O professor Waldorf tem uma formação específica de quatro anos nos chamados Seminários Pedagógicos Waldorf, onde recebe o conhecimento dos conceitos e práticas. Atualmente as Escolas Waldorf estão presentes nos cinco continentes, com 1064 escolas e 2000 jardins de infância (Educação Infantil), segundo a Waldorf World List, de novembro de 2014, publicada pela Freunde der Erziehungskunst Rudolf Steiners e V. No Brasil, são 84 Escolas Waldorf, distribuídas em 12 estados da federação18.
De um modo geral, a Pedagogia Waldorf tem como meta dar suporte e promover o desenvolvimento integral saudável do ser humano, comportando as esferas corpórea, psíquica e espiritual.
Ibídem.
ANTONOVSKY, A (1997). Op. cit.
STEINER, R (2008). Op. cit.
16 STEINER, R (2014). A Metodologia do Ensino e as condições de vida do educador. Editora Antroposófica, São Paulo, SP. p.39.
17 LANZ, R (2000). A pedagogia Waldorf: caminho para um ensino mais humano.7ª Edição, Editora Antroposófica, São Paulo, SP.
FEWB: Federação das Escolas Waldorf do Brasil. Disponível em: http://www.fewb.org.br
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Sabe-se que o método Waldorf é sistematizado de forma a desenvolver as características integrativas da alma humana, quais sejam: o pensar, o sentir e o querer19.
Para Steiner, a Educação só pode ser exercida corretamente se for compreendida como sanativa: se o educador se conscientizar de que ele deve ser um sanador20.
“A tarefa do educador, acima de tudo, é olhar profundamente para dentro do ser humano”21.
São várias as ferramentas que dão suporte e embasam as atividades cotidianas nas escolas Waldorf.
A seguir, citaremos as mais importantes, ainda que resumidamente.
QUADRIMEMBRAÇÃO E TRIMENBRAÇÃO
Para Steiner22 o ser humano, nesse momento da evolução, possui uma constituição quádrupla:
corpo físico (material) – elementos físicos / químicos – cálcio, ferro, potássio, etc.
corpo vital (etérico) – portador da vida, dos processos como crescimento, reprodução, regeneração etc.
corpo psíquico (anímico) – portador dos movimentos e sensações / sentimentos
corpo espiritual (organização do eu / self) – portador da autoconsciência, capacidade de pensamento e renúncia.
A trimembração – Deve-se salientar que essa é considerada uma das principais reflexões de Steiner
a indicação das relações anímicas com os processos físico-corpóreos clareando a inseparabilidade dos mesmos. O termo alma, é usado para indicar essa conjunção de processos que constituem o mundo interno, representados pelas forças do Pensar, Sentir e Querer nos seres humanos. Essa tríade, segundo Steiner, deve ser igualmente estimulada para que a educação seja desenvolvida em paralelo com a saúde, por isso é a base que compõe o sistema educacional Waldorf. O âmbito psíquico é considerado em sua inter-relação com o corpo (a vitalidade, a fisiologia do corpo humano), desse modo, as três atividades anímicas (pensar, sentir e querer) possuem uma influência correspondente em diferentes sistemas fisiológicos. Para Steiner23, são admitidas novas formas de se localizarem as três atividades:
PENSAR é um fenômeno que se apresenta, a partir do cérebro humano, em concomitância com os órgãos sensoriais, que geram percepções e representações a respeito de conteúdos, configurando um sistema fisiológico – denominado Sistema Neurosensorial localizado essencialmente no pólo superior (cabeça).
SENTIR é a manifestação de sentimentos, desejos, emoções, sensações e instintos – localizado na região média – o tórax – denominado Sistema Rítmico, pois, fisiologicamente, está representado pelos dois órgãos rítmicos que habitam essa região: coração e pulmões.
QUERER é a base do processo da volição – engloba o metabolismo (processos geradores) que tem sua maior expressão nos órgãos metabólicos do abdômen e dos membros, assim chamado pólo inferior, constituindo o Sistema Metabólico Motor.
STEINER, R (2013). A prática pedagógica. Educar segundo o conhecimento científico-espiritual do homem. Editora Antroposófica, São Paulo, SP.
20 Ibidem.
21 STEINER, R (2014). Op. cit., p.31.
STEINER, R (2013). Op. cit.
Ibídem.
Elaine Marasca GARCIA DA COSTA
102 Pedagogia Waldorf e Salutogênese: o ensino como fonte de saúde.
Essas três atividades, apesar de presentes desde o nascimento, ganham desenvolvimentos específicos no decorrer da vida, da biografia de cada indivíduo.
A maioria dos seres vivos percorre uma relação com o tempo, que rege seu nascimento, crescimento, envelhecimento e morte.
Na Pedagogia Waldorf, o aprendizado percorre uma prontidão segundo o Pensar, Sentir e Querer, que são respeitados conforme o desenvolvimento biográfico da criança, oferecendo-se, em cada fase do seu desenvolvimento, o que lhe é pertinente24.
Por isso, Steiner chama a atenção sobre esse importante aspecto: “devemos ter bem consciente que o ser humano requer, em cada idade, algo bem definido; se lhe dermos outra coisa, ele reagirá de modo desfavorável ao seu desenvolvimento”25.
Sabe-se que, a cada sete anos (setênios), novas habilidades físicas e anímicas, estruturam e organizam o desenvolvimento corpóreo e psíquico26. Conhecer o desenvolvimento de cada setênio, propicia ao educador um importante subsídio na adequação de atividades e conteúdos contribuindo para um desenvolvimento saudável27. Simplificadamente, o primeiro setênio culmina com a troca dos dentes em torno dos 7 anos; aos 14 anos observa-se a consolidação da puberdade, sendo o início da maioridade aos 21 anos e assim sucessivamente. Pode-se dizer que dos 0 - 21 anos acontece o período da educação; dos 21 - 42 anos seria o período da auto-educação e dos 42 anos em diante, o período do autodesenvolvimento.
Faz-se mister, portanto, conhecer profundamente o desenvolvimento infantil, desde seus primórdios, pois torna-se fundamental na adaptação dos conteúdos.
A Teoria da Metamorfose de Goethe na qual Steiner se baseou para compor sua antropologia, diz que em cada fase da evolução, encontra-se a presença metamorfoseada das fases anteriores28.
Assim acontecem as fases evolutivas do Andar, Falar e Pensar que são interdependentes: o pensar seria o coroamento de um bom desenvolvimento das duas fases anteriores – o falar e o andar. O cuidado de não se acelerar ou “instrumentalizar” a primeira fase (Andar) e de se assumir a riqueza da língua materna (Falar) traria clareza e fluidez ao desenvolvimento do pensar29.
Para Steiner, essa tríade de acontecimentos segue um movimento temporal que influencia e predetermina a fase subseqüente, além de compor características que pertencem unicamente ao reino humano.
Esse conhecimento municia pais e professores na condução sadia dessas etapas.
BURKHARD, G (2014). A biografia humana. Org. Elaine Marasca Garcia da Costa, Liga dos Usuários e Amigos da Arte Médica Ampliada, São Paulo, SP.
STEINER, R (1996). A arte da educação II. Editora Antroposófica, São Paulo, SP. p. 11.
26 STEINER, R (1907). A educação da criança do ponto de vista da ciência espiritual. GA 34, Rudolf Steiner Verlag, Dornach.
27 SCHAD, W (1998). Amudança na puberdade: processos vitais e nascimento anímico, Federação das Escolas Waldorf, São Paulo.
GOETHE, JW (1997). A metamorfose das plantas. 3ª Edição, Editora Antroposófica, São Paulo, SP.
LIEVEGOED, B (1996). Desvendando o crescimento: as fases evolutivas da infância e da adolescência. 2ª Edição, Editora Antroposófica, São Paulo, SP.
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É prática comum nas Escolas Waldorf que o professor aprenda a “ler” o temperamento dos alunos. Temperamentos são características relacionadas ao “tempero” dos elementos: terra, água, ar e fogo na constituição humana, conhecidos desde os gregos, que conferem especificidades aos modos de ver e viver o mundo30.
Steiner retoma o conceito para oferecer uma compreensão didática dos modos diversos de ação e reação que cada temperamento apresenta, oferecendo a cada situação, a atitude pedagógica harmonizadora para cada temperamento: coléricos (fogo); fleumáticos (água); melancólicos (terra); sanguíneos (ar).
Apesar da singularidade de cada ser humano, sua constituição física e anímica pode ser agrupada nestas quatro categorias31. Esse conhecimento se constitui em preciosa ferramenta aos professores, que podem evitar incompreensões em sala de aula, sobre atitudes características apresentadas pelos diversos temperamentos, evitando juízos incorretos e instruindo o convívio com a diversidade.
Os sentidos são janelas de comunicação entre o mundo externo e o mundo interno dos indivíduos, modulando a qualidade das atividades do Pensar, Sentir e Querer.
Comandados pelo sistema nervoso, os sentidos informam, paralelamente ao seu desenvolvimento, que o ser humano vai se tornando, passo a passo, um cidadão do mundo, por meio das percepções introjetadas pela via sensorial32.
Para Steiner, são 12 as modalidades atribuídas aos sentidos33.
São quatro sentidos básicos ou corpóreos (relação corporal): sentido do tato, sentido vital (ou visceral), sentido do movimento (ou propriocepção) e sentido do equilíbrio34.
Quatro sentidos intermediários (relação com sentimentos ou sensações): sentido do olfato, sentido do paladar, sentido da visão e sentido calórico35.
Quatro sentidos superiores ou do conhecimento (relação com a essência): sentido da audição, sentido da palavra (ou som), sentido do pensamento (conceitos), sentido do EU - perceber o EU do outro36.
“Aprender com todos os sentidos significa uma diferenciação em 12 variações de relação com o mundo, formando uma base para a saúde física e anímica37.”
GLAS, N (1998). A face revela o homem, II: os temperamentos. 3ª Edição, Editora Antroposófica, São Paulo, SP.
STEINER, R (2013). Op. cit.
MARASCA, E (2015). “Os Doze Sentidos”. Revista Humanum, vol.3, LUAAMA, São Paulo, SP. pp. 28-30.
STEINER, R (1997). Os doze sentidos e os sete processos vitais. Editora Antroposófica, São Paulo, SP.
Ibíd., p.9. 35 Ibíd., p.12. 36 Ibíd., p.14.
37 MARTI, T (2003). “Uma pedagogia que promove saúd”. Periódico, n°.11, Federação das Escolas Waldorf no Brasil, São Paulo, SP. p.11.
Elaine Marasca GARCIA DA COSTA
104 Pedagogia Waldorf e Salutogênese: o ensino como fonte de saúde.
A arte, na Pedagogia Waldorf refere-se, primeiramente, ao próprio método pedagógico – a arte da educação.
É o próprio método que se revela artístico, à medida que se apresenta de forma viva, moldando-se às situações com a maior originalidade possível – um processo sempre criativo, que se vale da fantasia, da poesia, das lendas, das cores e formas, como preparo para os processos cognitivos.
A função da arte na Pedagogia Waldorf, é promover um caminho para o desenvolvimento da imaginação e o estímulo da fantasia, fortes aliados da formação da criatividade.
Para se trabalhar com processos artísticos, há que se considerar um “respirar oscilante” entre o Pensar (sistema neurosensorial), o Querer (sistema metabólico locomotor) e a ponte que une os dois primeiros: o Sentir (sistema rítmico localizado na região do meio – o tórax onde se encontram pulmões e coração). Evidencia-se aí o equilíbrio rítmico entre Pensar, Sentir e Querer, modulados pela arte.
Para Steiner, é especialmente nos anos do Ensino Fundamental e Medio, que o desenvolvimento humano se abre para o cultivo da sensibilidade, propiciando a aquisição de um equilíbrio entre as forças da fantasia e criatividade, com as forças da razão.
Diz ele que, a arte é o campo de ação de médicos e professores – tanto o curar como o educar, são manifestos como processos artísticos. A arte de educar, segundo a proposta de Rudolf Steiner, pode acontecer numa perspectiva de saúde, assumindo um caráter salutogênico38.
O ritmo é a “pedra de toque” da Pedagogia Waldorf.
Ritmo é ordem no tempo e, por isso, determinante para todos os processos saudáveis, pois ordena a grande maioria dos processos vitais. O ritmo é constituído de movimento e pausa. Distúrbios do ritmo, de um modo geral, são geradores de doença39.
Para os professores da Pedagogia Waldorf, há uma firme orientação no sentido da organização de certos ritmos. Na cultura pós-moderna, onde imperam orientações multifacetadas, a valorização dos ritmos de vida, significa um elo com as modalidades ancestrais da relação do ser humano com a natureza.
Dormir (sono) e acordar (vigília); fazer (atividade) e descanso (pausa); a estrutura da aula, da semana, das festas do ano, são processos sempre observados, pois ordenam o Sistema Rítmico (Sentir), que tem caráter de mediador, sanador40.
A ritmologia aponta para uma psico-fisiologia do desenvolvimento, considerada essencial no trabalho pedagógico, para a vitalidade da criança41.
Ibídem.
HILDEBRANDT, G; MOSER, M & LEHOFER, M (1998). Chronobiologie und Chronomedizin: Biologische Rhythmen; medizinische Konsequenzen. Hippokrates-Verlag Stuttgart..
STEINER, R (2013). Op. cit.
MARTI, T (2003). Op. cit.
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A atividade prática – o fazer, impulsionado pelo Querer (vontade) está presente no cotidiano dos 12 anos das Escolas Waldorf. Sempre de acordo com o desenvolvimento físico, anímico e espiritual, os alunos percorrem disciplinas práticas, com o mesmo rigor de qualquer outra: jardinagem, tricô, crochê, trabalhos em madeira, argila, feitura do pão, construção de pequenas casas, de fornos, euritmia, educação física, etc., o que, além de contribuir com o aprendizado da autonomia, propicia o respeito a quem “faz” e o despertar de habilidades que possam indicar futuras profissões.
Essas são algumas das ferramentas à disposição dos professores Waldorf para construírem suas atividades visando a saúde dos educandos.
Pode-se dizer que os fundamentos básicos da Pedagogia Waldorf, se “espelham” nos fundamentos da Salutogênese, evidenciados pelo seu fio condutor – O Senso de Coerência - Sense of Coherence (SOC). O SOC se compõe de 3 características: inteligibilidade, manuseabilidade e significância, que encontram conformidade nas 3 atividades guias do Método Pedagógico Waldorf: o Pensar, o Querer, o Sentir:
Inteligibilidade (compreensibilidade) – PENSAR
Manuseabilidade (fazer, habilidade) – QUERER
Significância (faz sentido, significado) – SENTIR
Nos dois modelos, a proposta é auxiliar o ser humano, num desenvolvimento integral, a construir uma visão de mundo, onde o indivíduo encontre significado, compreensão e identificação de habilidades, processos essenciais, que dão suporte à manutenção e promoção de saúde.
Esta premissa nos levou a focar as atividades dos professores Waldorf em sala de aula, como ponto de partida para se estudar se, a partir de suas atitudes, suportadas pelas ferramentas fornecidas pelo método Waldorf, evitando ou desviando potenciais estressores, primeiros detonadores de doenças, segundo Antonovsky 42, se criaria um ambiente potencialmente saudável repercutindo em promoção de saúde dos educandos.
Para a Pedagogia Waldorf: “Aquilo que fazemos com a criança, não o fazemos apenas para o momento, mas sim para toda vida”43.
Vários estudos apontam que ex-alunos Waldorf têm menor incidência de algumas doenças. Um estudo de 2014, em Berlin, na Alemanha, evidencia a baixa incidência de doenças crônicas (como diabetes, hipertensão, doenças reumáticas e depressão) em ex-alunos Waldorf, (-30%), comparados com ex-alunos de escolas tradicionais.
As pessoas estão cada vez menos motivadas, adoecendo mais, principalmente de doenças crônicas44.
Há uma projeção da Organização Mundial de Saúde para 2100 sobre o adoecimento da população mundial: se esta perspectiva não se alterar, seremos 20% de pessoas no mundo em condições saudáveis para assumir um trabalho, enquanto 80% dependerá de assistência social – sociedade 20/8045.
ANTONOVSKY, A (1997). Op. cit.
STEINER, R (2013). Op. cit.
HUECK, C (2014). Salutogenese – gesundheitsfördernde Erziehung an Waldorfschulen. Blickpunkt Nr. 10, Bund der Freien Waldorfschulen. Berlim.
WHO: World Health Organizaton (1997). The world health report 1997- conquering suffering, enriching humanity.
Elaine Marasca GARCIA DA COSTA
106 Pedagogia Waldorf e Salutogênese: o ensino como fonte de saúde.
ASalutogênese, nesse sentido, se mostra como um caminho cada vez mais apropriado e necessário46.
A partir daí pode-se imaginar um despertar para o novo conceito de saúde – a Salutogênese, impulsionando fazeres e práticas, inclusive com repercussão na educação e na economia. Segundo Nefiodow47, o 6º Ciclo da Economia proposto por Kondratieff (Der sechste Kondratieff) estará vinculado à promoção e manutenção da saúde e suas derivações48, projetando a necessidade de aprendizados que impulsionem atitudes geradoras e promotoras de saúde.
O movimento de prevenção de saúde na medida em que se constituiu em um esforço para se antecipar à doença, poupando energia e custos econômicos e psicológicos do tratamento, representou um importante passo na direção de se entender a natureza da doença. Porém, a prevenção tem alcance limitado. Por isso, é preciso distinguir promoção de saúde e prevenção de saúde, que não são sinônimos49.
Assim sendo, tanto no âmbito individual como no coletivo, o termo prevenção deve ser reservado para toda medida que, tomada antes do surgimento ou agravamento de uma dada condição mórbida ou de um conjunto delas, vise afastar a doença do indivíduo, para que tal condição não se manifeste (ou tenha diminuída a sua possibilidade de ocorrência) ou se manifeste de forma menos grave ou mais branda.
A promoção de saúde se caracteriza por uma intervenção, ou um conjunto de ações que teriam como meta ideal, a eliminação permanente ou, pelo menos, mais duradoura de doença, porque buscariam atingir as suas causas básicas, e não apenas evitar que as doenças se manifestem nos indivíduos ou nas coletividades50.
O conceito de promoção de saúde também se encontra vinculado às intervenções voltadas a determinantes como eliminação da pobreza, reconhecimento dos direitos econômicos e sociais da população, justiça social e suporte social. Constitui-se como produção conceitual, metodológica, e instrumental, cujos pilares são a complexidade do conceito de saúde, a discussão sobre qualidade de vida, o pressuposto de que a solução dos problemas está no potencial de mobilização e participação efetiva do indivíduo e da sociedade51.
A luta por saúde equivale à melhoria da qualidade de vida e deve estar presente nas principais estratégias de promoção à saúde52.
46 HUECK, C (2014). Op. cit.
47 NEFIODOW, LA (2001). Der sechste Kondratieff. Wegezur Produktivitat und Vollbeschaftingim Zeitalter der Information, Rhein- Sieg Verlag, Bonn.
Ibídem.
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Não por acaso, iniciativas baseadas nas conclusões das diversas conferências sobre promoção de saúde, foram sendo incorporadas e colocadas em prática na área da educação, objetivando a criação de ambientes saudáveis – surgiram assim as “Cidades Saudáveis” e as “Escolas Promotoras de Saúde”53.
A rigor, a Promoção de Saúde distribui-se nas vivências pedagógicas cotidianas nas Escolas Waldorf em todos os seus âmbitos. O próprio método pedagógico é especialmente pensado e sistematizado neste sentido, segundo afirma Steiner. Não se trata de combater doenças unicamente. A geração, manutenção e promoção da saúde vai muito além. Há que se pensar a escola e o ensino de forma abrangente e capacitar todos os envolvidos no processo, especialmente a comunidade docente.
Logicamente, não podemos afirmar que o Método Pedagógico Waldorf seja o único a ser pensado no sentido de um desenvolvimento integral da pessoa, o que, potencialmente, pode colaborar com a promoção de saúde. Porém, como já aqui se expôs, o objetivo é apresentar especificamente esse método, por ter sido ele concebido, teórica e praticamente, com a finalidade de um desenvolvimento saudável de seus educandos, configurando-se, nos termos propostos, como uma possibilidade de preencher os requisitos para ser apresentado como potencial estruturador de escolas que podem ser consideradas promotoras de saúde.
Trabalhando na área de saúde como médica, assumindo a ampliação do conhecimento trazido pela Antroposofia e conhecendo os conceitos de Pedagogia Waldorf e Salutogênese, sentimos a necessidade de verificar, empiricamente (in loco) as atividades do professor Waldorf com vistas a demonstrar se, por meio da aplicação dos elementos constituintes desse sistema pedagógico, haveria uma congruência com as metas de geração e promoção de saúde, conforme as propostas da Salutogênese.
Trata-se de pesquisa teórico-exploratória com abordagem qualitativa, onde foram utilizados:
observações do cotidiano de professores do Ensino Fundamental nas Escolas Waldorf no Brasil e na Alemanha; b) entrevistas com os respectivos professores.
O foco da pesquisa é a observação do professor em atividades no cotidiano escolar, dirigidas à aplicação das ferramentas que compõem o método Waldorf, especialmente relacionadas às questões do Pensar, Sentir e Querer.
Objetivos – após apresentar os conceitos de Salutogênese e Pedagogia Waldorf e suas interfaces com a Promoção de Saúde, examinar as observações e entrevistas com professores Waldorf do Ensino Fundamental de escolas Waldorf, verificando suas motivações para atuar com o método e suas concepções de Saúde e Educação. Compreender como o desenvolvimento das atividades vivenciadas no cotidiano das escolas Waldorf, voltadas ao desenvolvimento do Pensar, Sentir e Querer, podem ser consideradas, potencialmente salutogênicas.
Universo da pesquisa – nove professores Waldorf do Ensino Fundamental no Brasil (Ribeirão Preto) e na Alemanha (Berlim).
PELICIONI, MCF & TORRES, AL (1999). A Escola Promotora de Saúde. Faculdade de Saúde Pública. Universidade de São Paulo. Série Monográfica, n°. 12. Eixo Promoção de Saúde. São Paulo, disponível em: http://dspace.fsp.usp.br/xmlui/bitstream/ handle/bdfsp/647/pel001.pdf?sequence=1.
Elaine Marasca GARCIA DA COSTA
108 Pedagogia Waldorf e Salutogênese: o ensino como fonte de saúde.
A Alemanha foi escolhida por ser o berço da Pedagogia Waldorf onde Rudolf Steiner morou e trabalhou por muitos anos. Em Berlim tivemos apoio acadêmico da Alice Solomon Hochschule ASH – Berlin, universidade parceira da UNISO – Universidade de Sorocaba.
No Brasil, as visitas para observações e entrevistas na Escola Waldorf de Ribeirão Preto (com 430 alunos) somaram 21 dias de trabalho, totalizando 105h em campo. Na Alemanha, o trabalho de observações e entrevistas aconteceu em duas Escolas Waldorf de Berlim: Freie Waldorfschule Berlin – Mitte (com 592 alunos) e Freie Waldorfschule Kreuzberg (com 754 alunos) em 25 dias, num total de 100 h em campo.
Ainda em Berlim, tivemos oportunidade de, juntamente com os professores que nos davam o apoio acadêmico na ASH – Berlin (Profas. Dras. Theda Borde e Bettina Völter) visitarmos centros de pesquisas em educação (Kinderforscherzentrum Helleum) e saúde (Hospital e Universidade Charité; Hospital Havelhöhe) onde participamos de várias atividades e discussões relacionadas aos temas da pesquisa, que constam do Certificado de Projeto de Pesquisa Internacional que nos foi conferido pela ASH – Berlin, ao final do período de trabalho que se iniciou em 31 de maio de 2016 e terminou em 20 de julho de 2016.
Ao todo foram 9 sujeitos da pesquisa: 5 no Brasil, 4 na Alemanha, com média de idade de 50,4 anos e 16,6 anos de trabalho com a Pedagogia Waldorf.
As entrevistas e observações seguiram um protocolo sugerido por Rosenthal54. Para as entrevistas foram feitas questões abertas sobre:
Como o professor chegou à Pedagogia Waldorf?
O que significava Educação para o professor?
O que significava Saúde para o professor?
As entrevistas eram feitas após as observações que duravam o período da aula observada, sendo no mínimo 2 vezes e no máximo 4 vezes, guiado pelo critério de saturação55.
Para as análises e interpretações está sendo utilizado o Paradigma Indiciário de Ginzburg56 ainda em andamento.
Busca-se com essa abordagem, indícios que apontem, na atuação do professor Waldorf, um caminho rumo à geração e promoção de saúde.
A Pedagogia Waldorf certamente não é a única com possibilidades de abranger um desenvolvimento integral. Aprendizagem pode se dar por meio de inúmeros princípios teóricos que regimentam as atuações docentes. Porém, não se pode desconsiderar a complexidade do processo educativo e a multidimensionalidade dos seres humanos em seu desenvolvimento57.
A Educação Waldorf, com sua abrangência, não só como ensino geral, mas por conjugar a abordagem voltada à promoção de saúde, organizando os ritmos das aulas e, respeitando prontidões e
ROSENTHAL, G (2014). Pesquisa Social Interpretativa: uma introdução. 5.ed. Edipucrs. Porto Alegre.
DESLANDES, SF (2012). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Suely Ferreira Deslandes; Romeu Gomes; Org: Cecília de Souza Minayo, Ed Vozes, Petrópolis.
56 GINZBURG, C (1989). Sinais: raízes de um paradigma indiciário. Editora Cia. das Letras, São Paulo.
57 ARAÚJO, UF (2000). “Escola, democracia e a construção de personalidades morais”, Revista Educação e Pesquisa, vol. 26, n°. 2, jul./dez, São Paulo, pp. 91-107.
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individualidades, tendo a arte como sua anfitriã, desponta como possibilidade para se criar um alicerce para a saúde.
Apesar de não se ter finalizado todas as análises da pesquisa, com base nos dados já computados das observações e entrevistas se poderia depreender:
O professor Waldorf é verdadeiramente interessado e comprometido com o método pedagógico e especialmente com seus alunos.
Observa-se eficácia no cumprimento ao método durante as aulas, porém não se percebe um “engessamento”, ou seja, cada professor, segundo sua cosmovisão e temperamento, aborda criativamente os conteúdos para os diferentes contextos em sala, o que corrobora a característica de liberdade do professor Waldorf.
Os professores são, na grande maioria, bem preparados tecnicamente, ou seja, dominam os conteúdos e os apresentam com clareza respeitando a metodologia, os ritmos e a prontidão dos alunos, pautados no Pensar / Sentir / Querer, concorrendo para a proposta do desenvolvimento saudável.
O excesso de trabalho de professores Waldorf, apesar de já ser tema de discussão no próprio meio, é, de certa maneira, preocupante, já que poderia influenciar diretamente o desenvolvimento dos educandos, inclusive no quesito saúde.
Outra crítica apontada nas entrevistas e que merece revisão dos colegiados e instituições responsáveis, é o fato de ocorrer um certo isolamento no que se refere àquilo que se produz na área da Educação fora dos muros da Pedagogia Waldorf. Salutar seria uma maior abertura para trocas nos dois sentidos.
De um modo geral, um método pedagógico que prepara seus professores para, além dos conteúdos, conhecer profundamente o desenvolvimento humano, criar maneiras de apresentar o mundo com atividades e experiências vivas que encontrem eco na prática cotidiana, ou seja, na realidade do seu contexto, respeitando as idades e os ritmos que lhes são adequados, integralizando, sem dissociações, as atividades do Pensar, Sentir e Querer, tende a desenvolver, nos educandos, um forte Senso de Coerência, o que, segundo Antonovsky 58 não protege de tudo e de todos, mas, indicaria um impulso para uma “mobilização ativa” frente a potenciais estressores.
Por ora, poder-se-ia inferir, que a sistematização da Pedagogia Waldorf que conduz as atividades docentes, conjugando uma abrangência integralizadora nos termos apresentados, serve como luva na proposta de Antonovsky, a Salutogênese. Novas pesquisas estão sendo desenvolvidas na mesma direção, o que confirma as prováveis relações59.
Esse estudo, por conter dois conceitos relativamente novos, pretende ainda estimular o interesse de outros pesquisadores a se aprofundarem no desenvolvimento de novas abordagens sobre saúde e educação, pilares que sustentam o crescimento humano, o bem-estar, o engajamento social e político, rumo à cidadania responsável e à qualidade de vida.
Por fim, vale destacar a fala de um dos professores entrevistados durante a pesquisa numa Escola Waldorf em Berlim: o professor fez uma observação que, em nossa opinião resume toda a proposição da
ANTONOVSKY, A (1997). Op. cit.
SOBO, EJ (2014). Salutogenic Education?. Movement and Whole Child Health in a Waldorf(Steiner) School. Medical anthropology quarterly, Florida.
Elaine Marasca GARCIA DA COSTA
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pesquisa: disse ele: “Amor é muito importante no trato com alunos, e é premissa da Pedagogia Waldorf, mas isso se pode conseguir em outros métodos pedagógicos; o método pedagógico Waldorf nos dá ‘ferramentas’ que nos auxiliam construir um forte alicerce na formação dos alunos – é uma educação para ensinar os corpos a serem saudáveis”.
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Esta revista fue editada en formato digital y publicada en octubre de 2017, por el Fondo Editorial Serbiluz, Universidad del Zulia. Maracaibo-Venezuela
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