UTOPÍA Y PRAXIS LATINOAMERICANA. AÑO: 22, n°. 79 (OCTUBRE-DICIEMBRE), 2017, PP. 111-122 REVISTA INTERNACIONAL DE FILOSOFÍA Y TEORÍA SOCIAL
CESA-FCES-UNIVERSIDAD DEL ZULIA. MARACAIBO-VENEZUELA.
Views of the trip of a talkativeresearcher in a day-to-day life Miradas del viaje de un investigador conversador en lo cotidiano Eder PROENÇA
Universidade de Sorocaba (UNISO), Brasil.
RESUMO
O texto traz narrativas das experiências vividas no doutorado sanduíche realizado na Universidade Autônoma de Barcelona, em Barcelona, Espanha, entre abril e setembro de 2015. Sob a orientação do professor Lupicínio Iñiguez-Rueda, do Departamento de Psicologia Social, buscou-se criar tessituras com professores pesquisadores espanhóis e portugueses que investigam temas como gênero, sexualidade, feminismo e educação. O método empregado para a pesquisa é o do pesquisador conversador no cotidiano (SPINK, 2008), e faz uso do diário de bordo para compor as narrativas da viagem marcada por experiências que atravessam a trajetória de atuação política e cidadã de cada um dos envolvidos.
Palavras-Chave: Conversas do Cotidiano; Diário de Bordo; Narrativas.
ABSTRACT
The text provides narratives of the experiences lived abroad during the period of the doctorate held at the Autonomous University of Barcelona, in Barcelona, Spain, between April and September of 2015.It has been created a texture of connection with the Spanish and Portuguese research professors who investigate themes such as gender, sexuality, feminism and education under
the supervision of Professor Lupicínio Iñiguez-Rueda from the Department of Social Psychology. The method applied for the research is the talkative researcher in a day-to-day life (SPINK, 2008), and it uses the logbook to write the journey marked by experiences that cross the path ofthe political and citizen action of each person involved.
Keywords: Day-to-day Talks; Logbook; Narratives.
RESUMEN
El texto presenta narraciones de las experiencias vividas durante una estancia de investigación del doctorado realizado en la Universidad Autónoma de Barcelona, España, entre abril y setiembre de 2015. Con orientación del maestro Lupicínio Iñiguez-Rueda, del Departamento de Psicología Social, se buscó crear redes con maestros investigadores españoles y portugueses que investigan temas como género, sexualidad, feminismo y educación. El método empleado para la investigación es el del investigador conversador en lo cotidiano (SPINK, 2008), y hace uso del diario de a bordo para componer las narraciones del viaje marcadas por las experiencias que cruzan la trayectoria de actuación política e ciudadana de cada uno de los involucrados.
Palavras Clave: Conversaciones del Cotidiano; Diário de a Bordo; Narraciones.
Recibido: 27-07-2017 ● Aceptado: 28-08-2017
Em meados de 2014, em uma das conversas com o professor Marcos Reigota, meu orientador no doutorado em educação na Universidade de Sorocaba, sugeriu a possibilidade de realizar um período de estágio no Rio de Janeiro, Recife ou Rio Grande do Sul. Em um segundo encontro, cogitou-se, inclusive, que poderia ser em outro país, como Chile, México, Estados Unidos, Alemanha ou Espanha, sendo este último país o escolhido.
Busquei as informações do que necessitava para solicitar a bolsa ao Programa Institucional de Doutorado Sanduíche no Exterior da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (PSDE/Capes), tendo como orientador o professor Lupicinio Iñiguez-Rueda1, da Universidade Autônoma de Barcelona, em Barcelona, Espanha.
Com todos os documentos em mãos, enviei o pedido ao PSDE/Capes no final de 2014, para que a viagem ocorresse a partir do mês de fevereiro de 2015. Nesse ínterim, houve o contratempo de indeferimento de meu pedido de licença sem remuneração à Secretaria de Educação de Sorocaba, com a alegação de que o Ministério Público havia indicado que não deveriam ocorrer novos contratados para assumir cargos vagos.
Foi um período estressante até conseguir o direito de usufruir do benefício presente no regimento do funcionalismo público de Sorocaba, foi preciso procurar diretamente o prefeito da cidade, após ter feito uma campanha que mobilizou grande parte dos meus amigos da rede social do Facebook e muitos professores pesquisadores ligados ao professor Marcos Reigota, que me apoiou ao longo de todo o percurso.
Escrevi uma carta para enviar a um dos jornais locais para expor a questão, mas acabei publicando-a também em minha página do Facebook, conquistando muitos apoiadores.
Sonhou em continuar rolando e chegar ao doutorado em educação – a pedra é teimosa, não para. Interessa a ele a educação como possibilidade de ampliar o sentido de cidadania. A ideia da pesquisa, na época, era fuçar o que está nas margens da educação, que ninguém dá valor, ou sequer olha e ouve.
Mas quer ir mais longe: uma bolsa de estudos de seis meses no exterior. Seria possível? Sim, com o apoio de seu orientador, que o põe em contato com um professor da Universidade Autônoma de Barcelona. E o nosso personagem corre atrás, se informa, escreve, pede ajuda e conquista o benefício.
Rolar é preciso: oxigena as ideias, aguça os sentidos, possibilita novas criações. Porém, quando tudo está pronto para sua partida, a burocracia, aquela que mais atrapalha do que ajuda, resolve que não é hora. A Promotoria de Justiça orienta que a Secretaria de Educação não contrate mais substitutos para os cargos vagos, garantindo a obediência à lei de responsabilidade fiscal.
Então, a pedra deve estacionar, é o que querem seus superiores que não conseguem vislumbrar que o ganho desse movimento não é apenas individual? Trata-se de uma conquista coletiva, fruto de um processo construído cotidianamente no chão da escola, com esforço, diálogo, estudo e trabalho. Aquilo que mais deveria importar escapava ao olhar2.
No começo de abril tinha início a maior e mais intensa experiência da minha existência até o momento.
Encontrei o professor Lupicinio Iñiguez-Rueda, por sugestão de Marcos Reigota, em outubro de 2014, em São Paulo, no período em que ele desenvolvia uma pesquisa sobre mobilidade feminina com moradoras do Jardim Ângela, Zona Sul de São Paulo, em parceria com a PUCSP e a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
PROENÇA, E (2015). “Pedra que teima em rola”. Facebook, Sorocaba. Disponível em: <https://www.facebook.com/eder. proenca.1/posts/805327986228492>. Acesso em: 05 set 2017.
Na despedida realizada pela equipe da escola em que trabalho, recebi um presente cuja importância é incalculável: uma mala cheia de cartas escritas pelas crianças da escola, e como não pude ler todas, levei parte delas na bagagem, e li durante a viagem. Eram cartas repletas de desenhos e palavras carinhosas que mereciam ser respondidas, como não seria possível responder uma por uma, resolvi utilizar o caderno que levei para ser meu diário de bordo e escrever uma carta que enviaria posteriormente para a escola.
Iniciava ali o registro de minhas impressões sobre a viagem; acontecimentos e experiências que me atravessariam nos seis meses seguintes. O diário de bordo seria uma companhia presente em todas as minhas andanças, cuidando para assegurar o que Peter Spink3 aponta em “O pesquisador conversador no cotidiano”: prestar atenção nos acasos diários, nas conversas dentro do metrô, à mesa do bar, numa caminhada pela cidade. O intuito era me tornar parte da própria pesquisa, não como mero observador ou como pesquisador participante, mas abrindo-me ao que se passa nos micro lugares.
Os micro lugares e seus diferentes horizontes são produtos e produtores de vários processos sociais e identitários: nós, eles, os temas a serem debatidos, com quem conversamos, como e onde vivemos. Denso, o cotidiano se compõe de milhares de micro-lugares; não é um contexto eventual ou um ambiente visto como pano de fundo. Os micro lugares, tal como os lugares, somos nós; somos nós que os construímos e continuamos fazendo numa tarefa coletiva permanente e sem fim.
Virar as costas para o cotidiano é abrir mão da possibilidade de uma inserção mais caótica no mundo das ações sociais; uma inserção ordinária e corriqueira – diferente da daquela do especialista e do observador imparcial4.
No avião, fragmentos do primeiro registro.
[...] estou no avião, como aqueles que muitos de vocês desenharam nas cartas que me mandaram. Trouxe várias comigo. São lindas!
Até recebê-las, eu nem imaginava que todos vocês eram artistas! Já sabia da inteligência e de como vocês aprender direitinho nas aulas, pois são dedicados. Mas a cada desenho ou escrita lidos me provou que, afinal, nossa escola não é uma escola qualquer. Nós vivemos arte e poesia! E isso é algo fenomenal!
Já estou sentindo saudades de vocês, dos abraços que recebia, das histórias que me contavam, do bom dia ou boa tarde com esse sorriso lindo que vocês davam ao passar pela minha sala e do barulho da escola durante os intervalos.
A viagem está sendo uma delícia, também, pudera, essas cartas são ótimas companhias [...] E sabe, vou contar um segredo para vocês: logo, logo vocês crescem e eu tenho certeza, se quiserem, vão viajar num avião como esse em que estou e bater as próprias asas, conquistando seus sonhos que, provavelmente, serão muito maiores que esse meu5.
Realizava minha primeira viagem para fora do país sozinho, muitas expectativas, ansiedade e até o medo me faziam companhia, mas por pouco tempo, pois, na escala realizada em Madri, conheci a Nelly, uma brasileira de Porto Ferreira, interior de São Paulo, que ia para Roma, na Itália, assistir a irmã que
SPINK, PK (2008). “O pesquisador conversador no cotidiano”, Revista Psicologia & Sociedade. Edição Especial, Porto Alegre, pp. 70-77.
Ibídem, p. 71.
PROENÇA, E (2015a). Diário de bordo, voando, 02 abr.
passaria por uma cirurgia. Nelly tinha um pequeno comércio numa cidade do Uruguai, onde vive a mais de vinte anos. Lá ela se casou, teve um filho e se separou.
Nesse breve instante, abertura e doação, falamos de coisas da vida: família, política, animal de estimação (não paro de pensar no Nero, meu cachorro que ficou – quero que ele fique bem) e, claro, educação.
Quando lhe contei que era diretor de escola, minhas raízes e qual o objetivo da viagem, ela de pronto me falou: “percebo que você ama o que faz, parabéns, sua profissão é linda”, e contou sobre suas percepções sobre o ensino no Uruguai6.
Quando desembarquei no Aeroporto de El Prat, na sexta-feira santa, feriado nacional, já sabia para onde me dirigir, no intuito de pegar o trem para chegar à cidade de Barcelona. Minha ideia de gastar o mínimo possível persistia, assim, táxi sempre esteve fora de questão para os deslocamentos necessários. Foi uma aventura interessante, um exercício de entender a lógica dos transportes, tentativas de familiarização com a língua e, no final, tudo deu certo: antes do horário de chek in, estava entrando no Arc House Barcelona, um hostel que havia reservado, próximo ao Arco do Triunfo.
Foi uma viagem chegar do aeroporto ao hostel onde estou instalado, provisoriamente - desde comprar o bilhete para o trem, onde descer, que conexão fazer no metrô, até a entrada no hostel –, que na verdade é um apartamento adaptado e não há espaços de convívio, onde se possa sentar para ler e escrever. Porém, há tranquilidade, a cama é boa e até encontrei dois brasileiros, no mesmo quarto compartilhado: ela é de Santa Catarina e está em Lisboa e ele, de Minas Gerais, está em Saragoça, ambos pelo Ciências Sem Fronteira7.
Neste momento estava convencido de que os registros no diário de bordo seriam importantes para minhas reflexões e posterior escrita da tese. Para compartilhar a viagem como meus familiares e amigos, criei um grupo no Facebook com o título “Diário de Bordo – Barcelona 2015”, no qual postaria minhas miradas da viagem. Cotidianamente, nas pausas para um café, sentado em frente ao mar ou em algum parque, passei a descrever aquilo que ia vendo e percebendo ao meu redor.
Com o olhar viajante (PRADO8; RIBEIRO9; MONTEIRO10), passei a explorar a cidade, demorando nos caminhos e experimentando as paisagens que se apresentavam, ricas em histórias, em multiculturalismo e possibilidades.
Estar sozinho foi uma experiência interessante para poder me sentir, para explorar minhas emoções e inquietações, distante do cotidiano quase sempre tomado pelos afazeres do trabalho na escola. Sair sem rumo, conhecendo as ruas, entendendo a cartografia da cidade, descobrindo os lugares.
PROENÇA, E (2015b). Diário de bordo, Madri, 03 abr.
7 PROENÇA, E (2015c). Diário de bordo, Barcelona, 04 abr.
PRADO Do, BHS (2004). Educação ambiental no cotidiano de escolas rurais de Itapetininga: a recuperação de matas ciliares. 207
f. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade de Sorocaba, Sorocaba, SP.
RIBEIRO, LF (2004). Por entre corpos, vidas e culturas: um (des)encontro entre a educação física escolar e a educação ambiental. 115f. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade de Sorocaba, Sorocaba, SP.
MONTEIRO, HM do V (2013): Narrativas indígenas do Alto São Marcos/RR: diálogos para além das fronteiras do cotidiano escolar. 111f. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade de Sorocaba, Sorocaba, SP.
Como estou sem pressa e me permitindo viver o silêncio em mim, que, não tenho dúvidas, também é potência, vou curtir esse espaço, que, sem dúvida, inspira a querer estudar e, principalmente, escrever.
O silêncio inspira! E pede para liberar a mente e o pensamento, deixando-os vagar, sem lógica e preocupações. Vou me permitindo! Ando mais vagarosamente, observo o que se passa ao meu redor. Sinto um vento gelado no meu rosto e o som do Mar Mediterrâneo a me saudar: bienvenidos! Seja muito feliz em Barcelona! Sorrio em agradecimento e o sol aparece para aquecer11.
As duas primeiras semanas foram de desbravamento da cidade, praticava corrida até a praia de Barceloneta, pela manhã, e a tarde saia para conhecer os bairros mais próximos da região central da cidade. A cada dia, uma nova história, um encontro inusitado pelas ruas, um grupo de música ao ar livre, uma arquitetura que me fascinava.
Sinto que há muito a se fazer por aqui. Mas, nesse momento, apenas caminhar, olhar para tudo e para todos, talvez tentando me encontrar. Isso me bastaria? Que eu jamais me encontre! Estar perdido é muito mais inspirador, ainda mais nessa cidade.
Penso em traçar planos, mas chego à conclusão de que ainda é cedo, “curta a cidade menino”, diz uma voz interior, acho que vozes que ainda soam do Brasil, e continua: “deixe seus olhos e mente livres para apreciar o que ela te oferece”. Está certo, pois amanhã ainda será feriado por aqui, “Lunes de Pascua”, e a cidade está cheia de turistas12.
Depois de duas semanas no hostel, consegui alugar um quarto em uma casa que fica nos fundos de um prédio muito bem localizado na região da Praça da Espanha. Dividiria a casa com duas brasileiras, a Silvania Rubert, gaúcha de Santa Maria, então doutoranda em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – sua pesquisa versava sobre o luto dos familiares de desaparecidos políticos da ditadura militar no Brasil e seu estágio estava sendo realizado na Universidade de Barcelona –; e Andressa Bortoti, doutoranda em Química da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro), que pesquisava melhoramento de materiais para captação e produção de energia solar, cujo estágio foi realizado na Universidade Autônoma de Barcelona.
A cidade de Barcelona oferece uma agenda cultural repleta de atividades, além de lugares belíssimos para serem explorados. Durante minha estadia, visitei o Museu de Arte Contemporânea, onde pude ver a exposição La bestia y el soberano, baseada no último seminário oferecido por Jacques Derrida (2002- 2003). A partir da visita, algumas questões ficaram em minha cabeça: como pode o ser humano ser capaz de produzir tanta desgraça para seus semelhantes e outros seres vivos? Como podemos resistir aos poderes soberanos do capitalismo ocidental? Que alternativas podem ser criadas para o que aí está?
Uma peça que vi durante o Festival de Barcelona – GREC, que ocorre anualmente, no mês de julho, também me trouxe vários questionamentos, 2015 com a possibilitat, dirigida por Didier Ruiz e coreografada por Tomeu Vergés. No diário de bordo, registrei,
O primeiro interesse que me despertou para ver essa peça foi o título, em seguida, lendo a síntese, não tive dúvidas de que se tratava de algo distinto e que, para pesquisadores do cotidiano, tem muito a dizer. Então, do que se trata a peça? A ideia do diretor francês é bastante simples, mas muito significativa, já realizou o mesmo trabalho em Paris, em 2013, depois em Avignon, em 2014 e, agora em Barcelona; consiste em reunir, de maneira voluntária e desinteressada, estudantes na faixa etária dos quinze aos
PROENÇA, E (2015c). Op. cit.
PROENÇA, E (2015d). Diário de bordo, Barcelona, 05 abr.
vinte anos de idade e, por um período de três meses, realizar um laboratório de teatro e de coreografia, no intuito de que aprendessem a se mover pelo cenário, a projetar suas vozes e dominar a linguagem para poder expressar com clareza seus pensamentos sobre a vida cotidiana, família, o bairro onde vivem, suas relações com as outras pessoas, com seu próprio corpo, seus sonhos, seus medos, o que esperam do futuro, do amor e da morte13.
As multifaces de Barcelona iam aparecendo nas narrativas dos personagens, filhos de latino- americanos, árabes, indianos e catalães que, residentes em Barcelona, contaram sobre a vida, o lugar onde moram e seus sonhos. Os adolescentes e jovens da peça não eram apenas personagens de um teatro, eles estavam ali, inteiros, dizendo de si, mostrando-se para os espectadores e têm muito a dizer e a mostrar para o mundo sobre possibilidades para o que vem.
Um dos objetivos do estágio era encontrar professores que estivessem envolvidos com pesquisas sobre gênero, sexualidade, feminismo e educação. Para isso, o professor Lupicinio Iñiguez-Rueda sugeriu alguns nomes que considerava fundamental para a tessitura de novas redes de conhecimento.
Participei do grupo Laicos Iapse, liderado por Iñiguez-Rueda, na Universidade Autônoma de Barcelona, composto por pesquisadores locais e estrangeiros. Nos encontros, estudamos textos sugeridos pelo professor e também realizávamos seminários com nossas produções, quando então recebíamos contribuições do grupo. As principais leituras foram Solomon Asch, Giorgio Agamben, Nikolas Rose, Tomás Ibáñez.
As pesquisas dos colegas do grupo estavam ligadas às questões da Psicologia Social, um mexicano que vive em Barcelona estava envolvido com o tema da autonomia e trabalho de pessoas diagnosticadas com transtorno mental severo e que viviam, pelo menos parte de seu cotidiano, em uma clínica da cidade. Uma chilena pesquisava sobre a prostituição em algumas cidades do norte do Chile, onde a economia se baseia em atividades mineradoras, principalmente. Uma brasileira, de Salvador, Bahia, estava realizando seu pós-doutorado, e pesquisava sobre a precocidade dos estudantes de Psicologia em tomar a decisão sobre suas carreiras, onde descrevia a experiência da Universidade Federal da Bahia que havia iniciado um curso de graduação em que os dois primeiros anos eram de formação básica, e somente ao final desse período os estudantes decidiriam sobre a área de interesse.
O professor Gerald Coll Planas, da Universidade de Vic, cidade a 70 km de Barcelona, foi sugerido por Lupicínio Iñiguez-Rueda, dada sua trajetória de formação e atuação em temas relacionados às questões de gênero e sexualidades. Coll Planas é autor do livro Dibujando el género14, no qual trabalha a desconstrução do gênero biológico para uma construção social que regula as diferenças e desigualdades entre homens e mulheres.
Encontrei com o professor numa das atividades acadêmicas que desenvolveu com seu grupo de pesquisa em Barcelona, na qual dois de seus orientandos apresentaram o andamento de suas pesquisas de doutorado.
PROENÇA, E (2015e). Diário de bordo, Barcelona, 09 jul.
COLL-PLANAS, G & VIDAL, M (2013): Dibujando el género. S.L. Egalles, Barcelona, Madrid.
O primeiro versava sobre o cruising – lugares de encontro para sexo anônimo entre homens. O pesquisador apresentou suas principais indagações sobre o levantamento do cruising através de publicações; ponderou que os participantes, de uma forma geral, não se consideram como parte da comunidade gay e refletiu sobre o crescimento de estabelecimentos voltados para essa parcela da população como uma conquista dos mesmos, ou uma característica do capital, que está atento às fatias do mercado, onde possa investir e lucrar cada vez mais. Em sua apresentação, o ato sexual é pensado como cultura e desvinculado da ideia de relação romântica como geralmente é pensado.
A segunda pesquisa tratava do bareback – homens que fazem sexo anal com outros homens sem uso de preservativo, ou como dizem aqui na Espanha, a pelo. A grande questão levantada é pensar a saúde sexual, afinal os praticantes assumem o risco de contrair, além do HIV, muitas outras doenças sexualmente transmissíveis – dessa forma, ganha foco as questões dos direitos sexuais. O pesquisador apresentou também as campanhas publicitárias de saúde pública, que apresentam claramente uma política sanitarista, que causam impacto. Das peças publicitárias apresentas, uma diz que homens que fazem sexo com outros homens sem preservativos deveriam fazer uso do coquetel, para evitar o vírus HIV, sem nenhum questionamento sobre os efeitos colaterais que tais medicamentos podem causar nos usuários15.
Encontrei a professora Conceição Nogueira, da Universidade do Porto, Portugal, no início do mês de junho, enquanto a cidade se preparava para a tradicional festa de São João. Tivemos uma longa conversa, em que pude conhecer sua trajetória de formação e trabalho, tanto na área da Psicologia Social quanto da Educação.
Conceição Nogueira me conta que sempre se interessou pelas questões sociais e no momento de decidir sobre qual curso fazer na graduação, pensava em Direito, mas acabou optando por Psicologia, por ser um curso novo em Portugal. As questões de gênero e o feminismo só vieram a fazer parte do seu percurso de pesquisa no doutorado, pois na juventude, com o fim da ditadura militar, acreditava que as questões das desigualdades entre homens e mulheres estariam resolvidas16.
Conceição afirma que o contexto experimentado por ela possibilitou a construção do que é na atualidade.
O resultado da minha história tem haver com o contexto social, histórico, ideológico e político. E aquilo que eu fiz ao longo do tempo e aquilo que eu sou agora é muito o resultado dessa construção que passa pelo desenvolvimento com o contexto político e ideológico. Poderia não ter tido, muitas outras pessoas não tiveram esse contexto com a minha idade, não tiveram envolvimento, viveram, sentiram na sua vida toda essa revolução, mas não a viveram da mesma maneira que eu. Essas vivências não tiveram nada a ver com o gênero, com os feminismos, mas estavam fortemente ligadas à mobilização política, às manifestações, que possibilitaram um olhar mais atento para a realidade social e para as desigualdades. E à medida que a gente avança nessas reflexões, outros olhares são despertados e começamos a perceber as desigualdades nas vivências pessoais, nos relacionamentos, na família. Assim, posso dizer que com meus quinze anos, mesmo não sabendo nomear, eu já era feminista17.
PROENÇA, E (2015f). Diário de bordo, Barcelona, 24 abr.
PROENÇA, E (2015g). Diário de bordo, Porto, 09 jun.
17 Ibidem.
Sobre os Guiões de Educação: Gênero e Cidadania18, Conceição fala que o material foi construído a muitas mãos, encomendado pela Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Gênero do Ministério da Educação de Portugal, para orientar os professores de todo o país no trabalho sobre as questões de gênero e sexualidade na escola, em disciplinas transversais como Formação Cívica e Área de Projeto, específicos para cada nível ou faixa etária, desde a Educação Infantil até o final da Educação Básica. Além do material, eram oferecidos cursos de formação para os professores, que atualmente ainda acontecem, mas são de cunho optativo, e, na maioria das vezes, os que se inscrevem estão mais preocupados em atingir a pontuação necessária para ascender a cargos de chefias na escola do que em desenvolver, de fato, conteúdos que ajudarão na desconstrução dos estereótipos sociais de gênero que predefinem o comportamento dos meninos e das meninas.
No final de nosso encontro, Conceição Nogueira me sugere um encontro com seu amigo, o professor João Manuel de Oliveira, do Centro de Investigação e Intervenção Social do Instituto Universitário de Lisboa, que também se dedica aos estudos feministas, à teoria queer e vem utilizando a arte transversalmente em suas pesquisas.
O contato com Lucas Platero, da Universidade Rey Juan Carlos, de Madri, foi sugerido por Iñiguez- Rueda, por se tratar de um professor trans e por trabalhar com os temas das interseccionalidades, feminismo, transexualidade e teoria queer. Apesar de não ter encontrado o professor Platero, troquei e-mails e tive contato com algumas de suas publicações como Intersecciones, Cuerpos y Sexualidades em la encrucijada19, que propõe pensar uma pessoa atravessada pelas inúmeras identidades que pode carregar, pertencente a uma classe social, a um grupo étnico, a uma ideologia, religião ou não, ou seja, ninguém pode ser pensado apenas dentro de uma categoria de análise; e também Por um chato de vino20, um livro de literatura que traz a narrativa de um homem trans, María Elena, que teria vivido durante os anos da ditadura franquista em Barcelona, sofrendo diversas medidas repressivas por sair vestida de homem e ficar nos bares e ruas até altas horas; além de uma entrevista concedida ao El diari de l´Educació21, na qual Platero aborda o tema gênero na escola, criticando o sexismo e os protocolos criados pelo mundo adulto para o tipo de atuação que cada criança deve ter dentro e fora da escola. Critica ainda a ausência de reflexão sobre as práticas machistas, por exemplo, que incentivam a competitividade, a agressividade e outras características que aprisionam cada um em um papel de gênero e que não dá conta da diversidade de possibilidades que cada pessoa comporta na sua relação com o mundo.
Platero compartilha a experiência de escolas que investem em modelos não sexistas, após debater o assunto com a equipe, familiares e estudantes, gerando espaços neutros em relação ao gênero, onde crianças e adolescentes que se percebem trans podem existir em suas singularidades, sem contextos de preconceitos e exclusão.
POMAR, C (Coord.) (2012): Guião de Educação Género e Cidadania. 2º ciclo do ensino básico. Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, Lisboa.
PLATERO, R (Lucas) (2012): Intersecciones: cuerpos y sexualidades em la encrucijada. Temas contemporáneos. Edicions Bellaterra, Barcelona.
PLATERO, Rl (Lucas) (2015a): Por um chato de vino: historias de travestismo y masculinidad femenina. Edicions Bellaterra, Barcelona.
PLATERO, Raquel (Lucas) (2015b): “Lucas Platero: Antes los niños y niñas que rompían las normas eran mariquitas o marimachos”, Im: El diari del l’Educació. Disponível em: <http://www.eldiario.es/catalunya/Lucas-Platero-rompian-mariquitas-marimachos_0_344715843. html>. Acesso em: 23 jun 2015.
Afirma que a mídia e as redes sociais são aliadas no sentido de dar visibilidade para as transexualidades, por exemplo, e acabam ressaltando que suas vidas podem ser possíveis, na diversidade22.
Meu encontro com a professora Teresa Cabruja, da Universidade de Girona, ocorreu logo depois da festa de São João, que na Espanha é realizada de diferentes maneiras em cada localidade e em Barcelona – pelas minhas impressões, se assemelha a nossa comemoração de Ano Novo, no Brasil.
Cabruja me recebeu em sua sala de trabalho, que se localiza na Faculdade de Educação e Psicologia. Demonstrou certo cansaço, comentando que esse período é o mais trabalhoso para os professores, pois é o encerramento do ano letivo, e que estava preocupada com os rumos do seu grupo de pesquisa voltado aos estudos das mulheres, gênero e cidadania. Também citou a dificuldade que os pesquisadores do grupo encontram em se estabelecer no mercado de trabalho, tendo, geralmente, que buscar outros países para continuar dentro do campo de formação.
Relata sobre sua trajetória de formação e como foi se aproximando dos temas que pesquisa na atualidade.
O tema gênero chegou como uma potência, principalmente pelo contato com disciplinas optativas quando cursava Psicologia da Universidade Autônoma de Barcelona, naquele momento, não havia uma disciplina que trabalhasse essas questões, porém, uma disciplina na Antropologia, com a professora Verena Stölcke, abordou, principalmente, questões do feminismo23.
A professora Teresa Cabruja é coordenadora do primeiro e único curso de Pós-Graduação interuniversitário24 em estudos de Mulheres e de Gênero na Catalunha.
Conversamos sobre literatura e cinema, e Cabruja me relatou que sempre utiliza esses recursos em suas aulas, seja para abordar temas relativos ao papel da mulher em diferentes contextos, como nas guerras, em que a história oficial quase nunca evidencia a sua importância e participação.
Um dos diretores preferidos é Abdellatif Kechiche, que dirigiu, entre outros, “La Vie d’Adèle” (Azul é a cor mais quente25), porém os que ela diz que mais utiliza nas aulas são os dois anteriores, “L’Esquive” (A esquiva26) e “Vênus Noire” (Vênus Negra27), pois são filmes que tratam de relações de gênero e outras questões, como sexualidade, raça, marginalidade, e que podem contribuir com importantes reflexões na formação dos futuros psicólogos28.
PROENÇA, E (2015h). Diário de bordo, Barcelona, 23 jun.
PROENÇA, E (2015i). Diário de bordo, Girona, 25 jun.
Compõem o curso oito universidades: Universidade de Barcelona, Universidade Autônoma de Barcelona, Universidade de Girona, Universidade de Lérida, Universidade Politécnica da Catalunya, Universidade Pompeu Fabra, Universidade Rovira e Virgili, Universidade de Vic/Universidade Central da Catalunha.
AZUL é a cor mais quente (2012). Dir. Abdellatif Kechiche. Genevieve Nemal. França.
A ESQUIVA (2003). Dir. Abdellatif Kechiche. Jacques Ouaniche. França.
27 VÊNUS Negra (2010). Dir. Abdellatif Kechiche. Charles Gillibert, Marin Karmitz, Nathanaël Karmitz. França.
PROENÇA, E (2015h). Op. cit.
Aprofessora Teresa Cabruja me apresentou o Drac Màgic, um grupo de mulheres que, em Barcelona, realiza um trabalho a mais de 40 anos com cinema, inclusive na escola, e sugeriu que eu entrasse em contato para conhecer seus projetos.
No final do mês de julho, viajei para Lisboa, Portugal, a fim de encontrar o professor João Manuel de Oliveira, que se define como um investigador feminista, apoiando-se nos estudos queers. Sua formação está ligada às tradições da esquerda da região do Alentejo, onde nasceu, e às influências dos.programas soviéticos que via pela TV.
Houve influência do que via na televisão, como os desenhos animados soviéticos, como das antigas Tchecoslováquia e Iugoslávia, por exemplo; os desenhos norte-americanos eram execrados, pois poderiam estragar as crianças, tornando-as capitalistas. Durou pouco tempo, mas tivemos um período na infância muito distinto do que se vive agora30.
Sua mudança para Lisboa se deve ao fato de querer continuar estudando. A aproximação com os estudos de gênero e o feminismo se deu no curso de Psicologia Social e sua transição por disciplinas da Antropologia.
Entre uma prosa e outra, João Manuel vai tecendo um emaranhado de ideias que perpassam a história de Portugal, o trabalho como professor, as transgressões ao questionar a Ciência e a Psicologia, enquanto denuncia as políticas fascistas no mundo.
É para isso que a gente está lá na universidade, não é para formar alunos que irão preencher os quadros de funcionários das empresas. Não estou formando bons funcionários, estou a formar cidadãos e cidadãs críticos e construtivos, eles podem implicar em muitas coisas31.
Seu investimento é em uma educação estética e, para isso, faz uma série de conexões que vão desde leituras até o trabalho com o cinema, o teatro e a dança. Para ele, a arte é uma forma de intervenção no mundo, pois pode tocar, de modo contundente, questões caras para a pós-contemporaneidade, como raça, gênero, sexualidade, colonialismo e pós-colonialismo.
Sobre o cinema, João Manuel traz uma seleção de diretores que, nas palavras dele, fazem um “cinema, portanto, transformador de consciência, que mexe com as entranhas, que coloca uma mão dentro do corpo e embaralha32”, alguns nomes são Pasolini, John Cameron Mitchell, Jonathan Caouette, Lars Von Trier, Chantal Ackerman, Agnés Varda, Michael Haneke e Derek Jarman que, segundo ele, seria um diretor queer. Ele se diz inspirado pelo cinema, não apenas como recurso para as aulas, mas também para pensar o social e a própria vida.
Eu sou muito inspirado pelo cinema, não apenas na prática profissional, nos movimentos sociais, mas na vida. Há um filme que eu ainda não utilizei em aula, mas quero muito utilizar. É um filme português recente que se chama “E agora? Lembra-me33”, de Joaquim Pinto, que é lindíssimo, conta a história de um homem
O encontro resultou na entrevista “Conversa com João Manuel de Oliveira: ativista, professor e pesquisador feminista”, publicada na Revista Espacios Transnacionales, n°. 3/5, julio-diciembre/2015. pp. 116-124.
PROENÇA, E (2015j). Diário de bordo, Lisboa, 30 jul.
Ibidem.
Ibidem.
PINTO, J (Dir) (2012), E AGORA? Lembra-me (2012). Presente, C.R.I.M. Produções. Portugal.
que tem HIV e hepatite C, que é o realizador do filme. Ele filma ele e seu namorado mostrando como foi horroroso o tratamento pela qual passou, que ia matando-o, mas ele sobrevive porque está agarrado completamente por uma espécie de alegria do amor. Há cenas lindas que é ele filmando o companheiro, que é a única coisa que o faz agarrar-se à vida. É brutal e é um filme que eu usaria para explicar a filosofia de Espinosa, pois mostra a alegria de estar junto, a sensação de paz, a alegria da criação, o olhar para a vida como algo do tipo, que bom que estamos aqui, amanhã já não vamos estar. Há a sensação de um fim, quase uma espada que está acima daquelas cabeças, mas eles estão fazendo a cena deles, com seus cães enormes, no campo onde vivem. O filme começa com uma lesma que se arrasta na tela e, ao mesmo tempo, está a marcar com eles essa coisa bonita que é a vida. Isso é política34.
Visitei a sede da cooperativa Drac Màgic já no fim da minha estadia em Barcelona. Fundada em 1970, a cooperativa se dedica ao estudo e à divulgação da cultura audiovisual, com o objetivo de incentivar a produção de filmes por mulheres ou com a temática de gênero, sexualidades e feminismos, além de difundir produções cinematográficas. Inclusive, a cooperativa possui projetos educacionais para escolas que manifestam interesse, com o intuito de refletir sobre questões como consumismo, identidades, gênero, sexualidades.
Por se tratar de uma organização social e feminista, realiza estudos sobre a representação da mulher nos meios de comunicação e promove várias ações sociais, culturais e educativas, como a Mostra Internacional de Films de Dones que, neste ano de 2017, está em sua 25ª edição.
Marta Nieto, responsável pelos projetos educativos, foi quem me recebeu no Drac Màgic, e contou sobre as principais ações que a cooperativa desenvolve nas escolas. Sobre o Projeto Construindo Miradas – Formação em linguagens audiovisuais, escrevi:
O projeto é desenvolvido para difundir o cinema e a cultura audiovisual em escolas e institutos das Comunidades Autônomas da Catalunha e de Aragão. A programação didática é específica para cada um dos ciclos educativos e o objetivo é desenvolver uma atitude crítica a respeito dos pensamentos e valores que as imagens transmitem. O projeto funciona da seguinte maneira, é realizada uma projeção de um filme e na sequência são desenvolvidas oficinas de audiovisuais em aula. Os alunos aprendem como funciona o cinema e como os filmes são construídos. Cada sessão é mediada por uma pedagoga que intervém com uma apresentação da obra e finaliza com uma reflexão. Os alunos são convidados a criar seus próprios filmes com os recursos que possuem35.
Ao findar o estágio e retornar para meu cotidiano em Sorocaba, todas as experiências vividas, deslocamentos físicos e do pensamento, encontros com o outro e comigo mesmo, foram importantes para pensar outras possibilidades de ser e estar no mundo e me perceber constantemente dentro do campo de pesquisa, onde os sentidos devem estar mais aguçados às conversas do cotidiano, aos gestos, aos deslocamentos produzidos a minha volta, pois podem ser elementos importantes que desvelam a atuação política e cidadã dos envolvidos, sejam os professores, ou os colegas que conheci e que também estavam realizando seus estágios de doutorado pela bolsa PSDE/Capes.
PROENÇA, E (2015h). Op. cit.
PROENÇA, E (2015i). Diário de bordo, Barcelona, 29 set.
As vivências e escuta sobre manifestações culturais, tanto as de rua, quanto as institucionalizadas e que se encontram nos museus, teatros, salas de dança, cinema como importantes para que se avancem nos temas como gênero, sexualidades, feminismo e educação.
Ousododiáriodebordofoiimprescindívelparaasanotaçõeseposteriorreflexãodosatravessamentos experimentados durante o período vivido em Barcelona e outras cidades da Espanha e de Portugal, sem ele, muitas experiências e detalhes importantes poderiam ter sido perdidos, dependendo apenas da memória para ativá-los.
E finalmente, o mais marcante desses seis meses de estágio internacional é a força da trajetória pessoal e coletiva, tanto minha quanto das pessoas que fui encontrando pelos deslocamentos realizados. A atuação política de cada um de nós é atravessada por histórias que pudemos experimentar em nossa formação familiar, política, profissional e cidadã, e isso tudo resulta no que somos na contemporaneidade. Nossas narrativas são a extensão de muitas lutas, em diferentes contextos, seja de ditadura, num passado não muito distante, ou dos atuais extremismos políticos e fundamentalistas que estávamos vivendo em níveis locais, regionais e globais.
Año 22, n° 79
Esta revista fue editada en formato digital y publicada en octubre de 2017, por el Fondo Editorial Serbiluz, Universidad del Zulia. Maracaibo-Venezuela
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